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IGREJA MATRIZ DE TREIXEDO

(ver notas no rodapé)

      Na verdade, de entre todos os edifícios de Treixedo dignos de visita, a Igreja Matriz, também designada Igreja Santa Maria de Treixedo, com o orago de Nossa Senhora da Assunção, merece lugar de destaque.

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     Situada num vale ameno, próximo e a sul da povoação, a atual igreja, apesar de recentemente restaurada, é um templo que possui mais de 300 anos de existência.

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       Era prior o Dr. João Aires Correa de Abreu quando se deu início à sua construção com o lançamento da primeira pedra, a 29 de Maio de 1712, por D. Jerónimo Soares, bispo de Viseu. No cunhal direito da fachada do edifício foi gravada na pedra a seguinte inscrição:

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D. HYERONYMVS SVARES, EPISCOPVS VISENSIS,

ME FECIT, ANNO 1712.

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    Esta pedra era cavada e nela se tinha inserido um "Agnus Dei" e um pergaminho que dizia:

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SVMMO PONTIFICE CLEMENTE XIº;

REGE JOHANNE Vº; EPISCOPO D.

HYERONYMO SOARES, PRIOR JOHANNES AYRES CORREA DE ABREU:

ANNO 1712, 29 MAY.

 

      De estilo barroco - rococó - o edifício tem uma implantação em forma de cruz (embora as obras realizadas nos últimos anos a tenham descaracterizado um pouco), com 18,04m de comprimento até ao arco toral da capela-mor e 8,80m de largura. A capela-mor, ainda que tenha um arco com um vão de apenas 3,96m, tem 4,40m de largura e 6,60m de comprimento. Assim, é esta igreja constituída por um majestoso altar-mor, o corpo da igreja com dois altares laterais e mais dois altares colaterais à ilharga do altar-mor (inicialmente particulares) que completam os "braços da cruz".  A sua implantação no terreno é também um caso excepcional relativamente, pois, ao contrário da prática habitual em praticamente todo o mundo cristão, a entrada está virada para nascente e o sacrário para poente.

     

     A igreja foi construída um pouco afastada de uma outra mais antiga que existia onde hoje é a . Embora não haja documentos que validem esta opinião, parece que o novo edifício da igreja foi construída com várias pedras desse templo, que já não dava garantias de segurança por ter sofrido uma derrocada, talvez pelo abatimento do terreno da sua implantação que continha vários lençóis freáticos ou, segundo a leve memória passada de geração em geração, por um raio que terá causado um incêndio. Na verdade, uma análise atenta a algumas pedras da atual Igreja Matriz revelam indícios de terem sido reaproveitadas de outra construção, nomeadamente as que constituem alguns dos arcos e que contêm resquícios desbotados de pinturas florais, típicas de templos, não se coadunando com a construção onde estão inseridas.  Não sabemos a data da sua conclusão e a da sua inauguração, embora possamos afirmar que em 1716 (portanto, quatro anos depois de colocada a primeira pedra), as obras decorriam a bom ritmo e o edifício já se encontrava "em grande altura".

    

     Ao longo dos anos, razões de adaptação aos tempos modernos, exigências de conservação e motivos de conforto foram descaracterizando o edifício. No entanto, a sua talha dourada, em que se destaca o altar-mor, continua deslumbrante; o batistério, esculpido num só talhão de pedra, continua firme no chão; o fresco ainda atrai o olhar; o púlpito continua erguido; a lápide do túmulo do Pe Simão Paes do Amaral, o prior que inaugurou a igreja, voltou a estar à vista... E, por debaixo do soalho, atualmente substituído por tijoleiras, as inscrições tumulares lá continuam, testemunhando a presença de muitos dos nossos avós!

 

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© Ilídio Trindade/ Julho de 1985

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NOTAS:

Literalmente, a inscrição significa "D. Jerónimo Soares, bispo de Viseu, me fez, no ano de 1712", ou seja, colocou a primeira pedra.

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"Agnus Dei" significa "Cordeiro de Deus", referindo-se, neste caso, à prédica utilizada na celebração da missa um pouco antes da comunhão.

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O texto do pergaminho traduz-se, literalmente, "Sob o Sumo Pontífice Clemente XI; o Rei João V; Prior João Aires Correia de Abreu. No ano de 1712, em 29 de maio", ou seja, a primeira pedra foi colocada sob o papado de Clemente XI, o reinado de D. João V e o priorado de João Aires Correia de Abreu. 

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